segunda-feira, 11 de junho de 2012

Cuidado com quem você deixa entrar na sua bagunça.





— Alô?
Oi.
— Eu nem ia atender.
Eu nem ia ligar.
— O que você quer? Faz menos de 20 minutos que a gente se viu.
Eu sei. Você esqueceu seu cd, tá comigo. Vem buscar?
— Hoje não. Amanhã eu passo aí e pego.
Tá.
— Posso desligar?
Não.
— Você quer que eu diga alguma coisa?
Pode ficar quieto, não me importo.
(Ele ri do outro lado) — Quer que eu fique mudo?
Quero.
(silêncio)
Tô ouvindo você respirar, é bonitinho.
— Você me assusta.
Você me assusta.
— Eu?
É.
— Porque? Sou um monstro agora?
Quase isso.
— Vou desligar.
Não, fala comigo.
— Tô com sono, me deixa dormir.
Não posso te deixar dormir, você nunca me deixa dormir.
— Você gosta de mim.
Gosto.
— Sou irresistível.
E gostoso.
— Então você não me ama, o nome disso é tesão.
Pode ser, eu ainda não sei o nome. 
— Como você não sabe nomear o que sente?
Vou chamá-lo de corda.
— Corda?
Tá me sufocando.
— É uma piada?
Não.
— Tô com mais sono ainda.
Porque você faz isso?
— Isso o que?
Me faz te querer tanto assim, não é normal.
— Eu roubei uma calcinha tua, e escrevi meu nome. Agora você vai me amar pelos próximos 70 anos.
Isso é o que? Macumba? — Ela dá gargalhadas.
— Aprendi na internet. E dá certo.
Se eu roubar uma cueca tua e escrever meu nome? Você vai me amar pelos próximos 70 anos?
— Não.
Não?
— Não.
Porque? 
— Por que minha sentença já foi dada. Eu vou te amar pelos próximos 100 anos.
É quase uma prisão perpétua.
— Eu não ligo.
Mas eu ligo.
— Posso desligar agora? Fui romântico e tudo.
Agora pode.
— Posso?
Pode.
— Jura que você não vai vir com aquele papo de “desliga você primeiro”?
Não. Isso é ridículo, e só namorados fazem isso.
— Quer namorar comigo?






@behdenardi

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